"Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome."

– Clarice Lispector

Em 1984, às 17h15 de uma terça-feira, nascia uma menina de cabelos escuros. Não demoraria muito para sua mãe descobrir que ela tinha um temperamento sanguíneo-melancólico. Filha do carnaval - nasceu em dezembro de 1984, ano em que o carnaval aconteceu em março - carrega dentro de si essa energia. Sagitariana, com ascendente em gêmeos e lua em escorpião!


Agora, em primeira pessoa: astrologia é um dos meus hobbies.


Sagitariana nata, minha essência é a animação, o otimismo, romper a zona de conforto. Mas, como o ascendente é em gêmeos, você pode me achar esnobe – vulgo metida – ao primeiro olhar. O ascendente é a primeira impressão que passamos, e gêmeos desperta meu lado falante. Até demais. Absorver uma variedade de informações e amar compartilhá-las é a minha marca registrada. Já a lua em escorpião... bem, a lua é o nosso lado emocional, e intensidade é o meu sobrenome. Não sei ser morna. Não sei pegar leve, passar despercebida ou fazer muito silêncio. São características que eu trabalho para moldar. Ponderar é preciso, e isso se tornou um exercício diário.


Resumindo: tenho o riso fácil. Eu falo o que penso. Chego chegando, tipo foguete de 7 tiros. Exagerada. Entrei na fila duas vezes neste caso, então multiplique por dois o "exagerada". Me preocupo com as minhas atitudes. Sou legal até a página dois, se pisarem no meu calo. Um leão se mexerem com a minha filha. Sincera. Humor ácido. Impulsiva. Empática. Ouvinte. Antifrágil. Cheia de defeitos. Cheia de qualidades.


Tricolor de coração!


Hoje, amor para mim não acontece sozinho, no “deixa a vida me levar”; é escolha. Amar é uma escola eterna. Dá trabalho. E, se não for escolha, decisão, descartar o outro vira a primeira possibilidade - por preguiça de tentar e de se esforçar por essa decisão. Ninguém é perfeito. Hoje escolho o meu difícil quando o assunto é amor.


Exercer minha vontade - e não apenas meu desejo - é meu esforço diário.

Desejo é algo primitivo. Impulsivo. Feito no calor do momento. É, por exemplo, entrar em uma loja de roupas para comprar uma calça e sair com vinte peças.

Vontade é o desejo refinado, que passou pelo crivo da crítica e da razão. Sem impulsividade. No caso do exemplo da loja, seria refletir sobre o desejo de comprar vinte peças e levar apenas o necessário - ou o que o orçamento comporta.

Permitir que meus desejos sejam maiores do que minhas vontades é o que me tira a liberdade. Por isso, sigo nesse esforço diário.


Em primeiro lugar, sou mãe da Gabi. Meu tudo. Minha Ariana. Teimosa que só, mas com o maior coração do mundo. Ela nem imagina que a Camila de hoje nem se compara à Camila de antes do nascimento dela. Um dia, quando crescer, vou contar a ela essa história. Em segundo lugar, sou irmã do Bruno. Eles são as minhas pessoas.


Depois, sou nutricionista. Nutrição não foi minha primeira escolha de graduação. Muito jovem, me guiei pela admiração que tinha por uma professora da escola – a professora de literatura - e optei pela graduação em Letras. Após dois anos de faculdade, percebi que não me identificava. Mais madura, decidi seguir meu coração e escolhi a Nutrição.


Minha família não apoiou minha decisão. Na época, eu fazia Letras na UFF, uma universidade pública, e não tínhamos dinheiro para pagar uma faculdade particular de Nutrição. Tive medo. Cheguei a repensar minha escolha, mas, intensa como sempre fui, precisava de uma profissão que enchesse meu coração de gratidão e fizesse meus olhos brilharem. Tranquei a faculdade de Letras. Minha única opção para cursar Nutrição era ser aprovada em uma universidade pública. Estudei sem parar: sem feriados, sem fins de semana – apenas trabalho e estudo.


Lembro até hoje do dia em que saiu o resultado do vestibular. Sentei na frente do computador, tremendo e chorando. Entrei na página, preenchi os dados solicitados e cliquei no botão. Fechei os olhos e abaixei a cabeça, sem coragem de olhar. Com as mãos juntas, em oração, levantei o olhar. Consegui! Uma vaga era minha. Estava classificada em décimo sexto lugar.


Não conseguia levantar da cadeira. Meu pai entrou no quarto e perguntou: "E aí?" A única coisa que consegui responder foi: "Vou ser NUTRICIONISTA".


Hoje, com mais de 16 anos de atuação como nutricionista e mais de 15 anos de experiência em atendimento em consultório, me dedico à docência – tanto no ensino superior, formando novos nutricionistas, como em cursos complementares e de capacitação profissional.


Faço tudo isso porque acredito, genuinamente, no crescimento da Nutrição como profissão e desejo ver, cada vez mais, profissionais excelentes atuando na área. Foi dessa crença que nasceu a ORBE - Nutrição no Mundo Real, da qual sou CEO. Dizer aos meus alunos, como faço todos os dias, "Nutri que sou e vocês, Nutris que serão", é o que me transborda.


E a literatura? Segue latente aqui dentro! E Clarice Lispector... ah, que maravilha! Ler é outro dos meus hobbies.


Uma das frases de Clarice que me “joga no mundo” é: "Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora da minha própria vida.”


Então, apesar de, siga em frente. E conte comigo como mentora, professora, nutri e, principalmente, ser humano.